segunda-feira, 26 de julho de 2010

Diário de um Texto
       O destino de cada ser humano é sempre um mistério. O destino de uma escritura também é algo misterioso... e também revelador. Podemos saber como começar a escrever, não foi muito o meu caso, mas não se sabe perfeitamente o destino das personagem, acha- se que se sabe. "O Diário de Uma Escritora" tem como propósito discutir os caminhos que cada escritor acaba encontrando para solucionar seus problemas com a arte de escrever, a partir da experiência da tecitura do texto "A Mestra da Sensibilidade" (penso que meu primeiro romance), e partilhar com o leitor a dor de encontrar soluções para o texto partilhando dos caminhos que tenho tomado para isso.
       Decidi escrever por pura necessidade de expressão. A arte da palavra sempre me atraiu com sua possibilidade de múltiplos significados, com a capacidade de dizer o "indizível", criando um universo novo para cada leitor. A intimidade com o texto de outros escritores como Clarice Lispector, Tagore e seus poemas sacros, Paulo Leminsk, Mário Quintana, e tantos outros que adimiro, me incentivou a também mergulhar nesse caminho de descobertas e possibilidades de conhecer a verdade que é a arte da palavra. Mas escrever o que? Fiz meu primeiro mergulho na arte da palavra escrevendo poemas sacros. Passei cinco anos brincado de poetar e nasceu um trabalho que intitulei de Instante único: O Alimento da Poesia. Agora, a necessidade foi de falar de modo mais prolongado, um texto que tem necessidade de um tempo maior de reflexão, por isso creio tratar- se de um romance. Já tenho mais ou menos 40 páginas redigidas que a partir de agora pretendo compartilhar com você a maneira como estou construindo cada uma delas.


Como Nasceu a Ideia do Romance?
      Certa vez conversando com um amigo, ele referindo- se ao que achava da minha pessoa, disse- me: "Você é a mestra da sensibilidade." Acho que nunca recebi um elogio tão impactante na vida. Sorri sem graça e guardei aquela preciosidade de frase dentro das minhas recordações. Quando não anoto no meu bloco de notas as coisas que leio ou escuto, as guardo nas recordações. As vezes não funciona, mas equela frase era tão cheia de uma verdade que eu aprendia a conhecer que dificilmente eu a esqueceria. Meses depois fui passar umas semanas na beira da maré, um lugar lindo, sereno e inspirador. Depois de alguns dias senti vontde de criar, claro! Escrevi então um conto de alguém que partilhava da alegria do reencontro com Deus, com si mesma e com o Amor.Nasceu assim um texto que parecia- me bem psicológico. O texto era forte e delicado, dizia nas entrelinhas a verdade que se alojava dentro do meu ser. Quando procurei um título eis que veio- me a mente o belíssimo título que eu carregava nas minhas recordações: A Mestra da Sensibilidade. Guardei aquele pequeno conto por mais de um ano, na espera de escrever outros. Quando comecei a escrever meu romance percebi que tratava- se de um enredo que lembrava muito o enredo já começado naquele conto guardado na gaveta. Coloquei então, provisoriamente, o título no romance e então a narrativa fluiu um pouco mais adiante, já que tinha descoberto de fato o enredo e a personagem principal, sim, porque até alí tudo era um pouco nublado ainda, mesmo assim escrevia, sem ter ideia de onde isso iria me levar, mas eu escrevia seguindo talvez uma intuição...parece que deu certo.


O Nome da Personagem
      
       Encontrar um nome para a personagem de um texto pode ser um problema, alguns usam da numerologia como ajuda, outros pela afetividade que têm em relação a um nome. Eu fiz uso da afetividade sim, mas também do significado deste. Você sabia que seu nome tem um significado? Escolhi o nome Tarcila retirado de um poema que gosto muito da escritora Giselle Ribeiro, do poema Singularidades (livro Objeto Perdido). Como tenho uma relação afetiva por essa personagem do poema e pela poeta (foi minha professora de literatura francesa na UFPA) acolhi o nome na personagem do romance que escrevo. Depois é claro, como uma boa estudante de Literatura, fui pesquisar o significado do nome e eis que descobri, perplexa, que tem o significado de Coragem. Perfeito porque a minha personagem faz uma viagem psicológica em busca de si mesma e isso em alguns casos requer MUITA coragem, como é o caso dela que sofre porque......(isso é segredo! risos). Bem, fiquei muito feliz com a escolha, mesmo que tenha sido meio por acaso. E você? sabe o que o seu nome significa? O meu "Thays" quer dizer "aquela que pode ser contemplada." Tenho que acreditar nisso!



Utilizando a Imaginação
    Esses dias me perguntaram se eu concordava com a frase tão conhecida de Fernando Pessoa: "O poeta é um fingidor." Para qualquer escritor creio que seja imprescindível o uso da imaginação. Criar envolve emoção, sentimentos, sensações, recordações, inspiração e trabalho crítico também, creio que esse é o passo mais difícil, ser avaliador do próprio texto. Mais com o exercício aprende- se. Fingir seria então a palavra certa? sim, porque fazer uso da imaginação é fazer uso do fingimento. Isso é mal? É uma mentira então? O uso da imaginação não é de fato maléfico nesse sentido, já que, acabamos por recriar a realidade podendo , então, atingir o outro de forma verdadeira e reveladora.
      Para a Mestra da Sensibilidade faço sim muito uso da imaginação. As vezes pego- me pensando em como a personagem sente, como reage e eu a compreendo como compreenderia qualquer pessoa real. Uso a imaginação para sentir pela personagem porque assim, (esse é o meio caminho, a minha solução) torna- se mais fácil descrever seus pensamentos e sentimentos. Como você percebe é uma mistura de imaginação, sensibilidade e trabalho de desdobrar a palavra para que esta diga o que realmente quero que ela diga. As vezes não funciona, ela diz outra coisa ou diz mais além. Fazer o que?
      Quando escrevo funciona, também, escutar música. Eu pelo menos gosto muito de produzir meus textos ouvindo uma boa música, tenho a nítida sensação de que uma porta abre- se na minha mente e esta voa mais alto, voa mais longe. Acho que o contato com outras formas de arte suscita criação, opa! recriação. Aprendi isso em uma aula de literatura no ensino médio, escrevemos uma vez ao som de música clássica! Adorei o resultado. Hoje escrevo ouvindo Nenhum de Nós, uma banda gaúcha que gosto muito. A música deles me faz querer partilhar o que há de bom dentro de mim e tudo vira recriação. Cada um tem suas soluções, não é mesmo?


Minha receita para Escrever:

a) É indispensável o silêncio. Isso me dá concentração.
b) Uma boa trilha sonora ajuda a deixar a mente voar, e a minha vai longe.(escuto a banda Nenhum de Nós enquanto escrevo na madrugada e isso abre minha criatividade).
c) Um caderno de notas com as ideias geradas durante o dia pode ser uma fonte de inspirações. O meu está todo rabiscado.
d) Reler o que já foi feito para mim é importante, as vezes modifico o texto, amplio, enriqueço, amadureço as ideias.
e) Por fim, paciência e um pouco de criatividade são temperos que não podem faltar.


Utilizo também a experiência de autores consagrados, Clarice Lispector me ensina a viver e a escrever também. Eis alguns pontos de uma lista da autora retirada do livro" Línguas de Fogo" de Claire Varin.(p.109) (a propósito, livro lindo):


1- Não pensar pessimisticamente no futuro.
2- Só atravessar a ponte quando chegar a hora.
5- Paulatinamente fazer o livro, sem pressa.
6- Apaixonar- se pelo livro. (adoro essa!)
7- Aprofundar as frases, renová- las. (essa é perfeita!)
13- Em todas as frases um climax. (tem coisa mais significativa?)

Ah! As vezes não consigo escrever nada. O que ajuda? Deixar o texto e fazer outra coisa. A mente descansa e quando vejo está criando sozinha. Anoto a ideia, depois é escrever, escrever e escrever.