Escrever, Minha Salvação
Que necessidade profunda é essa de dizer - me escrevendo? Sinto cada vez mais essa compulsão pela escrita e as vezes não escrevo nada...outras escrevo tão rapidamente que não sei exatamente como o que escrevi se formou dentro de mim...e saí pelos dedos adentra nas páginas e surge então, uma seqüencia de frases e ideias que não premeditei, apenas colhi do meu jardim secreto. Eu mudei, minha escrita mudou, mudaram os assuntos, a construção das frases, a profundidade. Me sinto mais nua, mais entregue ao ato de escrever- me porque sei que vivo nas minhas palavras, sei que sou eu no papel. Escrever é um caminho de liberdade, de encontro, de conforto, de entendimento e conhecimento da verdade que se é. Escrever me liberta, me transforma em uma coisa que sempre desejei ser....Escrever me desinstala instalando- me dentro de um ser que sou aqui dentro, nas entranhas.
Quando escrevo eu me conheço e me teço e me toco e me contemplo. ETERNIDADE. Escrever é minha eternidade, meu amparo e minha dor. Eu mudei e comigo mudou- se a escritura. Eu escolhi um novo tempo e adentrei no mistério dos contos femininos. A Mestra da Sensibilidade agora é contos. Não tinha porque ser Romance, é tudo muito rápido, muito repentinamente....transformei o romance em contos, femininos e cheios de sensibilidade. Trato de coisas do dia- a- dia, das descobertas, das constatações femininas.... Mostrarei um pouco do processo que estou vivendo: A Mestra da Sensibilidade e Outros Contos de Pensamento.
Conto: O Teste
Conto: O Teste
Eu tenho segredos! Coisas tão profundas e tão lacradas que não ouso contar a mim mesma. Mas eu sei, eu morro de segredos, coisas que poderiam salvar- me, encaminhar- me na vida se resolvidas e lá estão, e lá ficarão em algum lugar da alma e da calma, em algum lugar de paz e de harmonia, seguros, serenos, longínquos, oníricos. Mas eu estou inquieta, procurando alguma razão razoável para ainda ser quem realmente sou, para insistir- me na vida como a própria vida me desenhou. Talvez os meus segredos me dessem alguma verdade, alguma estrada dentro de mim por onde eu poderia caminhar e me encaminhar em direção à estabilidade? Na verdade detesto estabilidade! A estabilidade me impede de criar e tentar resolver- me. Sou um enigma! Um poço profundo de perguntas e agonias. O enigma me fascina! Alguém sabe, por acaso, me dizer onde é o caminho do encontro de si mesmo? Eu queria poder trilhar caminhos que me levasse à revelação de quem eu sou. A vida é um passo após outro, um caminhar sem fim e às vezes eu canso, paro no meio da estrada e fico me questionando se não tomei o rumo errado. Em que atalho entrei e que não deveria ter entrado? Que rua deveria ter tomado? Essa vida não é minha, esse lugar não é meu. Eu não tenho nada, não tenho nem a mim mesma agora. Eu me perdi no meio da estrada da vida, perdi meus significados, minha idéia de quem eu era. Eu era! Não sou mais. Agora sou outra, andarilha cansada, angustiada, desorientada, mas outra. Nasce em mim um novo ser, uma Fênix gerada das cinzas da dor, da dor, da dor. A dor é a angustia do mundo. Porque não sabemos ampara- la? Não sabemos tomar conta dela? E ela apossa- se de nossas entranhas avassaladoramente. A dor pula aonde não há o refúgio e a fortaleza. Eu queria ser uma música, ser paz dentro da tarde eu estaria em paz dentro de mim mesma e eu serenaria- me, tomaria- me pela mão e indicaria- me o lugar da paz. Mas a minha paz partiu, a música calou-se e só me resta o desejo do silêncio, puro silêncio! Enigma! Virei um enigma, obscuro a mim mesma e só a mim. Eu fui rejeitada por mim mesma, pela natureza e pela estrada. A estrada disse- me: quem és tu que caminhas tão despreocupadamente? A estrada me disse que eu era um enigma e que não conhecia- me e não sabia- me ainda. Ainda! Mas como se me plantou a beira dessa estrada? Como não vos pertenço? Acredito em tudo o que me falam? Acredito em tudo o que me escolhem? Acredito no outro e em mim mesma? Em mim eu acredito? A dor anda perseguindo –me e fazendo- me perguntas descabidas. Não estou pronta para responde- las. Ainda! Ainda, ainda... Porque não estou ainda pronta para vivê- las. E quando estarei? Se é que um dia eu estarei... Responder é estar pronta para viver. A vida parece não ter sido feita para mim, ela é frágil em minhas mãos, se parte e se quebra com muita facilidade. Eu tenho medo da vida, ela é forte e seu poder pode aterrorizar, eu não estou pronta para a vida meu Deus, não estou, na verdade sou eu que sou partida, eu que quebro- me...Eu não vivo de dia, nas coisas da vida, nas tarefas normais. Eu vivo nas minhas penumbras, vago perdida em busca de um abrigo seguro, uma mão que me ensine à direção a prosseguir e me diga que é assim mesmo, que é assim mesmo... Eu sairei de mim mesma um dia, deixarei meu corpo de vida ambulante e serei livre, só espírito. Onde Deus receberá o meu espírito? Tenho medo, tenho medo do sofrimento de não encontrar a vida e nem a morte. E depois da morte? Haverá algo depois da morte como há a morte depois da vida? E se não houver, como será que morrerei minha morte? Do mesmo jeito que vivo minha vida? Estarei para a eternidade perdida então. Preciso encontrar- me em vida, preciso encontrar um jeito de encontrar- me ainda no meu corpo, depois entenderei só de almas. Por enquanto basta- me a dor de não entender- me em corpo físico, basta- me dessa verdade que procuro entender e não me é revelada ainda, ainda, ainda. Eu me testei. Foi isso. Eu me testei e vi que não era pronta ainda, vi que a força da vida ainda não me pertence, vi que a vida ainda me é muito forte, impactante avalanche. Ainda não tenho poder sobre a vida, a força da vida ainda não me pertence. E quando pertencerá? Nunca talvez.