sexta-feira, 12 de novembro de 2010

 Escrever, Minha Salvação

Que necessidade profunda é essa de dizer - me escrevendo? Sinto cada vez mais essa compulsão pela escrita e as vezes não escrevo nada...outras escrevo tão rapidamente que não sei exatamente como o que escrevi se formou dentro de mim...e saí pelos dedos adentra nas páginas e surge então, uma seqüencia de frases e ideias que não premeditei, apenas colhi do meu jardim secreto. Eu mudei, minha escrita mudou, mudaram os assuntos, a construção das frases, a profundidade. Me sinto mais nua, mais entregue ao ato de escrever- me porque sei que vivo nas minhas palavras, sei que sou eu no papel. Escrever é um caminho de liberdade, de encontro, de conforto, de entendimento e conhecimento da verdade que se é. Escrever me liberta, me transforma em uma coisa que sempre desejei ser....Escrever me desinstala instalando- me dentro de um ser que sou  aqui dentro, nas entranhas.


Quando escrevo eu me conheço e me teço e me toco e me contemplo. ETERNIDADE. Escrever é minha eternidade, meu amparo e minha dor. Eu mudei e comigo mudou- se a escritura. Eu escolhi um novo tempo e adentrei no mistério dos contos femininos. A Mestra da Sensibilidade agora é contos. Não tinha porque ser Romance, é tudo muito rápido, muito repentinamente....transformei o romance em contos, femininos e cheios de sensibilidade. Trato de coisas do dia- a- dia, das descobertas, das constatações femininas.... Mostrarei um pouco do processo que estou vivendo: A Mestra da Sensibilidade e Outros Contos de Pensamento.


Conto: O Teste

Eu tenho segredos! Coisas tão profundas e tão lacradas que não ouso contar a mim mesma. Mas eu sei, eu morro de segredos, coisas que poderiam salvar- me, encaminhar- me na vida se resolvidas e lá estão, e lá ficarão em algum lugar da alma e da calma, em algum lugar de paz e de harmonia, seguros, serenos, longínquos, oníricos.  Mas eu estou inquieta, procurando alguma razão razoável para ainda ser quem realmente sou, para insistir- me na vida como a própria vida me desenhou. Talvez os meus segredos me dessem alguma verdade, alguma estrada dentro de mim por onde eu poderia caminhar e me encaminhar em direção à estabilidade? Na verdade detesto estabilidade! A estabilidade me impede de criar e tentar resolver- me. Sou um enigma! Um poço profundo de perguntas e agonias. O enigma me fascina!  Alguém sabe, por acaso, me dizer onde é o caminho do encontro de si mesmo? Eu queria poder trilhar caminhos que me levasse à revelação de quem eu sou. A vida é um passo após outro, um caminhar sem fim e às vezes eu canso, paro no meio da estrada e fico me questionando se não tomei o rumo errado. Em que atalho entrei e que não deveria ter entrado? Que rua deveria ter tomado? Essa vida não é minha, esse lugar não é meu. Eu não tenho nada, não tenho nem a mim mesma agora. Eu me perdi no meio da estrada da vida, perdi meus significados, minha idéia de quem eu era. Eu era! Não sou mais. Agora sou outra, andarilha cansada, angustiada, desorientada, mas outra. Nasce em mim um novo ser, uma Fênix gerada das cinzas da dor, da dor, da dor. A dor é a angustia do mundo. Porque não sabemos ampara- la? Não sabemos tomar conta dela? E ela apossa- se de nossas entranhas avassaladoramente. A dor pula aonde não há o refúgio e a fortaleza. Eu queria ser uma música, ser paz dentro da tarde eu estaria em paz dentro de mim mesma e eu serenaria- me, tomaria- me pela mão e indicaria- me o lugar da paz. Mas a minha paz partiu, a música calou-se e só me resta o desejo do silêncio, puro silêncio! Enigma! Virei um enigma, obscuro a mim mesma e só a mim. Eu fui rejeitada por mim mesma, pela natureza e pela estrada. A estrada disse- me: quem és tu que caminhas tão despreocupadamente? A estrada me disse que eu era um enigma e que não conhecia- me e não sabia- me ainda. Ainda! Mas como se me plantou a beira dessa estrada? Como não vos pertenço? Acredito em tudo o que me falam? Acredito em tudo o que me escolhem? Acredito no outro e em mim mesma? Em mim eu acredito? A dor anda perseguindo –me e fazendo- me perguntas descabidas. Não estou pronta para responde- las. Ainda! Ainda, ainda... Porque não estou ainda pronta para vivê- las. E quando estarei? Se é que um dia eu estarei... Responder é estar pronta para viver. A vida parece não ter sido feita para mim, ela é frágil em minhas mãos, se parte e se quebra com muita facilidade. Eu tenho medo da vida, ela é forte e seu poder pode aterrorizar, eu não estou pronta para a vida meu Deus, não estou, na verdade sou eu que sou partida, eu que quebro- me...Eu não vivo de dia, nas coisas da vida, nas tarefas normais. Eu vivo nas minhas penumbras, vago perdida em busca de um abrigo seguro, uma mão que me ensine à direção a prosseguir e me diga que é assim mesmo, que é assim mesmo... Eu sairei de mim mesma um dia, deixarei meu corpo de vida ambulante e serei livre, só espírito. Onde Deus receberá o meu espírito? Tenho medo, tenho medo do sofrimento de não encontrar a vida e nem a morte. E depois da morte? Haverá algo depois da morte como há a morte depois da vida? E se não houver, como será que morrerei minha morte? Do mesmo jeito que vivo minha vida? Estarei para a eternidade perdida então. Preciso encontrar- me em vida, preciso encontrar um jeito de encontrar- me ainda no meu corpo, depois entenderei só de almas. Por enquanto basta- me a dor de não entender- me em corpo físico, basta- me dessa verdade que procuro entender e não me é revelada ainda, ainda, ainda. Eu me testei. Foi isso. Eu me testei e vi que não era pronta ainda, vi que a força da vida ainda não me pertence, vi que a vida ainda me é muito forte, impactante avalanche. Ainda não tenho poder sobre a vida, a força da vida ainda não me pertence. E quando pertencerá? Nunca talvez.              




quarta-feira, 4 de agosto de 2010


O Fascinante Exercício da Escritura

     Adentro cada vez mais no universo desconhecido do meu próprio texto. Que maravilha é descobrir a tecitura do texto que está a se desenrolar em nossas mãos. Confesso que é um exercício fascinante e desgostoso ao mesmo tempo. Fascinante, porque mais e mais me apaixono pelo o que escrevo. Desgostoso porque dói, porque percebo o quão sou limitada e me certifico mais e mais que preciso aprender, aprender, aprender. Aprendo lendo, grande exercício de quem procura criar algo novo, algo seu e com a sua cara. Isso também é difícil fazer, encontrar o seu próprio estilo, e cada um de nós tem o seu. Percebem?? escrever é meio complicado, como é pintar, cantar, dançar ou fazer qualquer outro tipo de arte. Sim, porque não quero escrever qualquer coisa, quero fazer arte, literatura e isso requer sim estudo, pesquisa, aprendizado, conhecimento. 
          E nesse caminho de descobertas da escritura vale tudo, rascunhar de madrugada, escrever palavras aleatoriamente, anotar frases inusitadas saídas de bocas alheias, as pessoas no geral não percebem como falam coisas interessantíssimas, mas eu percebo e anoto tudo o que me é possível. Então, sem querer, os outros ajudam essa aprendiz de escritora aqui a fazer desse exercício, que tem a face do desgosto e do fascínio, um meio maravilhoso de conhecimento de si mesma, da escritura nas suas várias possibilidades e descoberta do mundo e das coisas que nos rodeiam. É muito interessante quando escuto e identifico algo de inusitado saído de repente de uma conversa ou algo parecido. Certa vez estava eu andando pela rua aqui em Belém (eu moro em Belém) quando de repente vi uma propaganda publicitária gigantesca com a seguinte e única expressão."Ata- me". Fiquei alí, perplexa no meio da rua, que coisa inusitada era aquila?? não preciso dizer que escrevi no meu bloco de notas, não é mesmo? usei depois e fiz um pequeno conto que um dia mostro para vocês. É assim a vida de quem escreve, um longo catar de palavras, frases e ideias do mundo que nos cerca. Na verdade, o mundo é uma caixa maravilhosa cheia de ideias inspiradoras, uma caixa de onde posso tirar toda a sorte de matéria prima para criar. Luz, cores, música, fotografia, poemas, sensaçõs.....tudo isso é inspirador! Como dizia Clarice Lispector: "Inspiração é Deus!"

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Diário de um Texto
       O destino de cada ser humano é sempre um mistério. O destino de uma escritura também é algo misterioso... e também revelador. Podemos saber como começar a escrever, não foi muito o meu caso, mas não se sabe perfeitamente o destino das personagem, acha- se que se sabe. "O Diário de Uma Escritora" tem como propósito discutir os caminhos que cada escritor acaba encontrando para solucionar seus problemas com a arte de escrever, a partir da experiência da tecitura do texto "A Mestra da Sensibilidade" (penso que meu primeiro romance), e partilhar com o leitor a dor de encontrar soluções para o texto partilhando dos caminhos que tenho tomado para isso.
       Decidi escrever por pura necessidade de expressão. A arte da palavra sempre me atraiu com sua possibilidade de múltiplos significados, com a capacidade de dizer o "indizível", criando um universo novo para cada leitor. A intimidade com o texto de outros escritores como Clarice Lispector, Tagore e seus poemas sacros, Paulo Leminsk, Mário Quintana, e tantos outros que adimiro, me incentivou a também mergulhar nesse caminho de descobertas e possibilidades de conhecer a verdade que é a arte da palavra. Mas escrever o que? Fiz meu primeiro mergulho na arte da palavra escrevendo poemas sacros. Passei cinco anos brincado de poetar e nasceu um trabalho que intitulei de Instante único: O Alimento da Poesia. Agora, a necessidade foi de falar de modo mais prolongado, um texto que tem necessidade de um tempo maior de reflexão, por isso creio tratar- se de um romance. Já tenho mais ou menos 40 páginas redigidas que a partir de agora pretendo compartilhar com você a maneira como estou construindo cada uma delas.


Como Nasceu a Ideia do Romance?
      Certa vez conversando com um amigo, ele referindo- se ao que achava da minha pessoa, disse- me: "Você é a mestra da sensibilidade." Acho que nunca recebi um elogio tão impactante na vida. Sorri sem graça e guardei aquela preciosidade de frase dentro das minhas recordações. Quando não anoto no meu bloco de notas as coisas que leio ou escuto, as guardo nas recordações. As vezes não funciona, mas equela frase era tão cheia de uma verdade que eu aprendia a conhecer que dificilmente eu a esqueceria. Meses depois fui passar umas semanas na beira da maré, um lugar lindo, sereno e inspirador. Depois de alguns dias senti vontde de criar, claro! Escrevi então um conto de alguém que partilhava da alegria do reencontro com Deus, com si mesma e com o Amor.Nasceu assim um texto que parecia- me bem psicológico. O texto era forte e delicado, dizia nas entrelinhas a verdade que se alojava dentro do meu ser. Quando procurei um título eis que veio- me a mente o belíssimo título que eu carregava nas minhas recordações: A Mestra da Sensibilidade. Guardei aquele pequeno conto por mais de um ano, na espera de escrever outros. Quando comecei a escrever meu romance percebi que tratava- se de um enredo que lembrava muito o enredo já começado naquele conto guardado na gaveta. Coloquei então, provisoriamente, o título no romance e então a narrativa fluiu um pouco mais adiante, já que tinha descoberto de fato o enredo e a personagem principal, sim, porque até alí tudo era um pouco nublado ainda, mesmo assim escrevia, sem ter ideia de onde isso iria me levar, mas eu escrevia seguindo talvez uma intuição...parece que deu certo.


O Nome da Personagem
      
       Encontrar um nome para a personagem de um texto pode ser um problema, alguns usam da numerologia como ajuda, outros pela afetividade que têm em relação a um nome. Eu fiz uso da afetividade sim, mas também do significado deste. Você sabia que seu nome tem um significado? Escolhi o nome Tarcila retirado de um poema que gosto muito da escritora Giselle Ribeiro, do poema Singularidades (livro Objeto Perdido). Como tenho uma relação afetiva por essa personagem do poema e pela poeta (foi minha professora de literatura francesa na UFPA) acolhi o nome na personagem do romance que escrevo. Depois é claro, como uma boa estudante de Literatura, fui pesquisar o significado do nome e eis que descobri, perplexa, que tem o significado de Coragem. Perfeito porque a minha personagem faz uma viagem psicológica em busca de si mesma e isso em alguns casos requer MUITA coragem, como é o caso dela que sofre porque......(isso é segredo! risos). Bem, fiquei muito feliz com a escolha, mesmo que tenha sido meio por acaso. E você? sabe o que o seu nome significa? O meu "Thays" quer dizer "aquela que pode ser contemplada." Tenho que acreditar nisso!



Utilizando a Imaginação
    Esses dias me perguntaram se eu concordava com a frase tão conhecida de Fernando Pessoa: "O poeta é um fingidor." Para qualquer escritor creio que seja imprescindível o uso da imaginação. Criar envolve emoção, sentimentos, sensações, recordações, inspiração e trabalho crítico também, creio que esse é o passo mais difícil, ser avaliador do próprio texto. Mais com o exercício aprende- se. Fingir seria então a palavra certa? sim, porque fazer uso da imaginação é fazer uso do fingimento. Isso é mal? É uma mentira então? O uso da imaginação não é de fato maléfico nesse sentido, já que, acabamos por recriar a realidade podendo , então, atingir o outro de forma verdadeira e reveladora.
      Para a Mestra da Sensibilidade faço sim muito uso da imaginação. As vezes pego- me pensando em como a personagem sente, como reage e eu a compreendo como compreenderia qualquer pessoa real. Uso a imaginação para sentir pela personagem porque assim, (esse é o meio caminho, a minha solução) torna- se mais fácil descrever seus pensamentos e sentimentos. Como você percebe é uma mistura de imaginação, sensibilidade e trabalho de desdobrar a palavra para que esta diga o que realmente quero que ela diga. As vezes não funciona, ela diz outra coisa ou diz mais além. Fazer o que?
      Quando escrevo funciona, também, escutar música. Eu pelo menos gosto muito de produzir meus textos ouvindo uma boa música, tenho a nítida sensação de que uma porta abre- se na minha mente e esta voa mais alto, voa mais longe. Acho que o contato com outras formas de arte suscita criação, opa! recriação. Aprendi isso em uma aula de literatura no ensino médio, escrevemos uma vez ao som de música clássica! Adorei o resultado. Hoje escrevo ouvindo Nenhum de Nós, uma banda gaúcha que gosto muito. A música deles me faz querer partilhar o que há de bom dentro de mim e tudo vira recriação. Cada um tem suas soluções, não é mesmo?


Minha receita para Escrever:

a) É indispensável o silêncio. Isso me dá concentração.
b) Uma boa trilha sonora ajuda a deixar a mente voar, e a minha vai longe.(escuto a banda Nenhum de Nós enquanto escrevo na madrugada e isso abre minha criatividade).
c) Um caderno de notas com as ideias geradas durante o dia pode ser uma fonte de inspirações. O meu está todo rabiscado.
d) Reler o que já foi feito para mim é importante, as vezes modifico o texto, amplio, enriqueço, amadureço as ideias.
e) Por fim, paciência e um pouco de criatividade são temperos que não podem faltar.


Utilizo também a experiência de autores consagrados, Clarice Lispector me ensina a viver e a escrever também. Eis alguns pontos de uma lista da autora retirada do livro" Línguas de Fogo" de Claire Varin.(p.109) (a propósito, livro lindo):


1- Não pensar pessimisticamente no futuro.
2- Só atravessar a ponte quando chegar a hora.
5- Paulatinamente fazer o livro, sem pressa.
6- Apaixonar- se pelo livro. (adoro essa!)
7- Aprofundar as frases, renová- las. (essa é perfeita!)
13- Em todas as frases um climax. (tem coisa mais significativa?)

Ah! As vezes não consigo escrever nada. O que ajuda? Deixar o texto e fazer outra coisa. A mente descansa e quando vejo está criando sozinha. Anoto a ideia, depois é escrever, escrever e escrever.